5 Coisas Que Você Não Sabia Sobre A Creatina

Descubra alguns benefícios normalmente desconhecidos da creatina que já foram demonstrados pela ciência.



Que a creatina pode ajudar no ganho de massa muscular e força, tanto em jovens quanto em idosos, todo mundo sabe; ou pelo menos deveria saber. Esses benefícios já foram amplamente demonstrados pela ciência.

E isso é incrível, pois trata-se de um suplemento barato, cujas doses diárias para obter a maior parte desses benefícios são relativamente pequenas (~5g por dia).

Mas convenhamos, não espere qualquer milagre com a suplementação de creatina. Embora ela funcione, seus efeitos na força, massa muscular e performance costumam ser modestos e, em algumas pessoas, eles são inexistentes, como veremos a seguir.

Pois bem, hoje você vai conhecer cinco coisas que a ciência descobriu e que você não sabia sobre a creatina.



1. Algumas Pessoas Não Respondem à Suplementação com Creatina

Como dito antes, algumas pessoas não reportam efeitos ergogênicos com a suplementação de creatina. Não importa o quanto elas suplementem, elas simplesmente não veem resultados.

Mas por que isso?

Em geral, espera-se que o conteúdo muscular de creatina eleve-se de 15 a 20% acima do normal, um aumento de mais de 20 mM (mmol/L), com a suplementação oral de creatina. A ciência chama as pessoas que apresentam esse tipo de resposta de “respondedores”.

Por algum motivo, certas pessoas não conseguem atingir essas concentrações, mesmo após suplementação prolongada. Os sujeitos cujo aumento do conteúdo de creatina nos músculos é menor que 10 mM são chamados de “não-respondedores”. Existem ainda os “semi-respondedores” (ou quase-respondedores), nos quais o aumento fica entre 10 e 20 mM¹; essas pessoas geralmente apresentam alguns benefícios, mas não tanto quanto os respondedores puros.

Estima-se que 20 a 30% dos indivíduos sejam não-respondedores à suplementação de creatina. Da mesma forma, apenas cerca de 30% dos indivíduos são respondedores puros. A maior parte das pessoas responde modestamente à suplementação com creatina. Essas porcentagens, contudo, podem variar um pouco devido ao pequeno tamanho das amostras (quantidade de pessoas) normalmente estudadas.

Em geral, os respondedores possuem um menor nível de concentração de creatina muscular inicial – um provável motivo pelo qual os mesmos se beneficiam mais da suplementação com creatina. Os indivíduos respondedores, aparentemente, tendem a ter uma maior quantidade de fibras musculares tipo II (de contração rápida), além de maior área de secção transversa (tamanho) dos músculos¹. Eles também tendem a ser mais jovens.

Ou seja, a resposta à suplementação de creatina parece estar associada tanto à massa muscular quanto ao tipo de fibra muscular de um indivíduo.

Agora, se você é um não-respondedor, encare isso pelo lado positivo. É como se você tivesse vindo, de fábrica, com um estoque de creatina ilimitado para a vida toda. Ainda assim, talvez você também possa se beneficiar da suplementação de creatina para fins não ergogênicos, como veremos a seguir.



2. Creatina Pode Ajudar a Reduzir a Gordura no Fígado

Estudos recentes com animais (ratos) e in vitro têm demonstrado que o tratamento com creatina previne o acúmulo de gordura no fígado, bem como a inflamação hepática e stress oxidativo, fatores envolvidos na progressão da esteatose hepática não alcoólica (fígado gorduroso).

Em um estudo, a suplementação de creatina em conjunto com uma dieta desenvolvida para induzir esteatose hepática em ratos preveniu completamente o acúmulo de gordura no fígado dos animais.

Inicialmente atribuiu-se tal efeito a uma menor necessidade de síntese de creatina pelo fígado e consequente maior preservação do SAMe (S-adenosilmetionina) – um conhecido fator associado à esteatose hepática. Contudo, apesar da suplementação com creatina realmente prevenir a redução do SAMe, outros mecanismos responsáveis pela diminuição do acúmulo de gordura no fígado permaneciam inalterados.

Atualmente, acredita-se que a creatina é capaz de modular substancialmente a expressão de fatores de transcrição e de genes importantes relacionados ao metabolismo de ácidos graxos².

Esses dados sugerem que a modulação do metabolismo de gorduras é um possível mecanismo pelo qual a suplementação de creatina pode prevenir o acúmulo de gordura no fígado, despontando como um método terapêutico promissor para a esteatose hepática e distúrbios metabólicos relacionados.

Com base nas doses utilizadas em ratos, as doses necessárias para obter esse efeito estão dentro das faixas normalmente utilizadas na suplementação em humanos.



3. Creatina Melhora a Absorção de Carboidratos

Não apenas o metabolismo de gorduras parece ser positivamente influenciado pela creatina, mas também o de carboidratos.

Um estudo³ investigou os efeitos da suplementação de creatina na ingestão de carboidratos após o exercício aeróbio de intensidade moderada. O grupo que tomou creatina (~10g por dia durante 3 meses) apresentou uma melhor resposta no teste oral de tolerância à glicose, embora nenhum efeito tenha sido observado na sensibilidade à insulina.

Isso provavelmente ocorre porque a creatina pode aumentar a expressão e atividade do GLUT 4, o principal transportador de glicose presente no músculo esquelético.

A suplementação de creatina parece atenuar a diminuição da expressão do GLUT 4 ocorrida durante a imobilização de membros (desuso) em humanos, e aumentá-la (cerca de 40%) durante o exercício de reabilitação. Isso possivelmente ocorre também em condições sedentárias, contudo de maneira não significativa em humanos, sugerindo que a suplementação de creatina funciona melhor quando associada ao exercício. Na mesma esteira, a creatina também parece aumentar o armazenamento de glicogênio muscular.

Em conjunto, esses dados sugerem que a suplementação de creatina associada ao exercício físico promove uma melhor absorção dos carboidratos ingeridos na dieta pelos músculos.



4. Creatina Pode Ajudar a Combater o Câncer

Cientistas da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), descobriram que a creatina pode atuar como uma “bateria molecular” para as células imunes, armazenando e fornecendo energia para supri-las na batalha contra o câncer.

A Drª Lili Yang e sua equipe mostraram que o uso da creatina é crucial para a atividade antitumoral das células CD8T, também conhecidas por seu nome muito mais foda de “Células T Matadoras”.

Quando essas células T entram em ação para combater um tumor, elas precisam competir por uma oferta limitada de nutrientes (glicose, aminoácidos e lipídios) com as células cancerígenas, que se espalham e crescem mais rapidamente. Sem recursos suficientes, é como mandar os 300 de Esparta para a guerra contra os persas sem café da manhã. Contudo, a creatina parece suprir essas células T com energia extra, em forma de ATP (a fonte energética da célula), suficiente para que elas continuem lutando.

A equipe descobriu isso estudando ratos geneticamente modificados para apresentar deficiência de moléculas transportadoras de creatina em suas células. Ou seja, suas células T não conseguiam obter creatina suficiente e, consequentemente, eram menos capazes de lutar contra os tumores. Porém, quando eles recebiam suplementação de creatina (tanto oral quanto intravenosa), suas células T apresentavam maior capacidade de combater as células cancerígenas. Depois disso, eles tentaram a mesma coisa em ratos normais e viram que eles também foram mais eficientes no combate ao câncer de cólon e melanoma.

Esses achados demonstram que a creatina é um importante regulador metabólico no controle da imunidade antitumoral das células T, sugerindo que o tratamento com suplementação de creatina pode proporcionar um benefício terapêutico para diversos tipos diferentes de câncer.



5. Creatina Pode Ser Boa para Seu Cérebro

Lesões cerebrais traumáticas (traumatismo craniocerebral) tendem a causar um dano contínuo às células devido à depleção das concentrações de ATP. A creatina parece preservar a permeabilidade da membrana mitocondrial em resposta a uma lesão cerebral traumática, aparentemente devido à sua habilidade de preservar ATP.

Em um estudo, a suplementação oral de creatina (0,4 g/kg de peso corporal ao dia) em crianças e adolescentes com lesões cerebrais traumáticas durante 6 meses reduziu a frequência de dores de cabeça, fadiga e tontura em relação a um grupo controle, além de parâmetros como duração da amnésia pós-traumática e tempo de permanência na UTI. A administração de creatina em ratos com lesão cerebral também foi capaz de reduzir os danos corticais em até 36 e 50%.

Além disso, a suplementação com creatina pode melhorar a performance cognitiva tanto em jovens quanto em idosos. O consumo de creatina também pode reduzir a fadiga mental induzida pelo estresse, como na privação de sono ou durante a resolução de testes matemáticos.

Um estudo também demonstrou que a creatina é capaz de melhorar a memória, mas esse efeito parece ocorrer apenas em vegetarianos. Devido à restrição da maioria dos alimentos ricos em creatina, vegetarianos podem apresentar uma maior depleção dos níveis dessa substância no cérebro em comparação a pessoas que comem carne, mas obtêm níveis semelhantes quando ambos os grupos suplementam creatina. Apesar disso, tanto os vegetarianos quanto os onívoros apresentaram uma menor variabilidade nas respostas em uma tarefa de tempo de reação de escolha.

Os resultados quanto à cognição ainda não são conclusivos, e parecem ser maiores em idosos e vegetarianos. Os mecanismos por trás desses resultados também ainda não são totalmente compreendidos, mas há evidências suficientes de que a creatina exerce um papel vital na provisão energética cerebral, e isso pode ajudar a explicar tais descobertas.



O Que Isso Significa Para Você

Apesar de ser um suplemento comprovadamente eficaz, a creatina não é uma bruxaria de outro mundo, muito menos um esteroide anabolizante (como alguns desinformados chegam a dizer). Na verdade, ela é um peptídeo (conjunto de aminoácidos) totalmente natural e está presente em alguns alimentos comuns; notadamente, nos mesmos lugares em que ela está mais presente em nosso corpo, ou seja, nos músculos (carne) e no coração.

Só que para ingerir a quantidade de creatina normalmente suplementada (3 a 5g ao dia), você teria que comer cerca de 1 kg de carne vermelha (ou mais de outras carnes), o que não é muito viável para a maioria das pessoas.

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Caso ainda não tenha ficado totalmente claro, a creatina parece ser um suplemento com inúmeros benefícios além da performance muscular.

Não apenas a creatina deveria fazer parte de seu shake pós-treino, como ela também deveria ser adicionada ao leite de soja da mamãe, à cerveja do papai, ao chá de camomila da vovó e à sopa do vovô. Quem sabe seja até o caso de colocá-la no nescau do Junior (principalmente se ele bater a cabeça).

A ciência considera a creatina um suplemento seguro para uso (não, ela não causa problemas renais em pessoas saudáveis), e vem descobrindo novos usos para ela ao longo dos últimos anos.



Como Tomar Creatina

Muitos marombeiros fazem uma fase de saturação tomando 4 doses de 5g de creatina por 5 a 7 dias, para então entrar na fase de manutenção, onde se toma 3-5g uma única vez ao dia.

Contudo, há um jeito muito mais fácil (e barato) de fazer isso. Basta tomar um scoop de 3 a 5g de creatina diariamente misturado na bebida de sua preferência. Se você quiser ser realmente preciso, pode calcular para tomar 0,03g de creatina por kg de peso corporal. Ao fim de 30 dias seu corpo estará saturado de creatina, pronto para colher seus possíveis benefícios.

A menos que você seja um não-respondedor, nesse caso não sabemos exatamente se os benefícios também valem para você. Ficaremos aguardando por mais pesquisas com esses “sortudos”.

Se quiser conhecer algumas opções de creatina, indico essas três marcas abaixo (bastante conhecidas no mercado). As duas primeiras têm uma consistência tipo sal, já a terceira parece mais uma farinha. Eu particularmente prefiro as primeiras, mas isso é unicamente questão de gosto pessoal. Aos preços do momento em que escrevo este artigo, a dose (5g) de cada uma sai por cerca de R$ 0,87, R$ 0,64 e R$ 0,53, respectivamente. O motivo de a primeira ser mais cara, além da maior quantidade (suficiente para até 80 dias), é a qualidade e pureza da matéria-prima alemã (CreaPure).



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Fontes:
1. Syrotuik DG, Bell GJ. “Acute creatine monohydrate supplementation: a descriptive physiological profile of responders vs. nonresponders”. J Strength Cond Res. 2004 Aug;18(3):610-7.
2. Deminice R, de Castro GS, Brosnan ME, Brosnan JT. “Creatine supplementation as a possible new therapeutic approach for fatty liver disease: early findings”. Amino Acids. 2016 Aug;48(8):1983-91.
3. Gualano B, Novaes RB, Artioli GG, Freire TO, Coelho DF, Scagliusi FB, Rogeri PS, Roschel H, Ugrinowitsch C, Lancha AH Jr. “Effects of creatine supplementation on glucose tolerance and insulin sensitivity in sedentary healthy males undergoing aerobic training”. Amino Acids. 2008 Feb;34(2):245-50.
4. Di Biase S, Ma X, Wang X, Yu J, Wang YC, Smith DJ, Zhou Y, Li Z, Kim YJ, Clarke N, To A, Yang L. “Creatine uptake regulates CD8 T cell antitumor immunity”. J Exp Med. 2019 Dec 2;216(12):2869-2882.
5. Patel K. “Creatine”. Examine.com. 2020 Apr. https://examine.com/supplements/creatine/

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