FST-7 Não Funciona...

Saiba onde o método FST-7 erra feio. E onde ele acerta também.



FST-7 Não Funciona...

...não da forma que lhe contaram.


O método de treino Fascia Stretch Training 7, mais conhecido por sua sigla FST-7 (Treino de Alongamento da Fáscia 7), criado pelo atleta/treinador de fisiculturismo Hany Rambod, tornou-se popular no Brasil de uns anos para cá.

Esse método prega que uma fáscia espessa ao redor dos músculos pode prejudicar o crescimento muscular, e promete uma maior hipertrofia através do alongamento e expansão de suas fáscias musculares.

Para esclarecer, a fáscia é como uma folha (ou bainha) de tecido conjuntivo que envolve diversas estruturas corporais sob nossa pele, incluindo os músculos, separando suas várias camadas e grupos musculares. Ela é encontrada por todo nosso corpo, inclusive logo abaixo da pele e ao redor dos órgãos, mas a parte que realmente interessa para o FST-7 é a fáscia profunda.

Em termos anatômicos, essa fáscia ao redor dos músculos corresponde a três camadas: o endomísio, que é a fáscia que envolve cada fibra muscular, a qual em conjunto com outras fibras forma um feixe muscular (ou fascículo), que é envolvido pelo perimísio. O conjunto de feixes musculares formarão o ventre muscular (seu próprio músculo), que é envolvido pelo epimísio.


Apesar dessa fáscia apresentar diferentes espessuras em diferentes regiões dos nossos músculos (e provavelmente uma espessura variada em diferentes pessoas), não há qualquer evidência científica de que a espessura da fáscia limite o crescimento muscular ou de que alongar forçadamente a fáscia possa induzir a uma maior hipertrofia¹.

A fáscia tem uma grande capacidade de elasticidade² (um de seus principais constituintes é o colágeno), então não haveria motivo para ela impedir nosso crescimento muscular. Ela também possui propriedades viscoelásticas, o que significa que ela pode sofrer deformações e não retornar necessariamente ao seu tamanho original logo após².

Outro pressuposto do método FST-7 é que fisiculturistas geneticamente "abençoados" teriam fáscias mais finas, exibindo músculos maiores, mais arredondados e com maior separação muscular, no entanto, uma fáscia plantar mais fina está diretamente ligada a pés chatos, sugerindo problemas na capacidade de suporte de carga do arco plantar. E se é assim, talvez o mesmo ocorra na transferência de força do tecido contrátil (músculo) para o não contrátil (tendões e ossos).

Então, seriam os fisiculturistas com fáscias finas mais fracos no geral?! Seria isso algo bom?



Como o FST-7 Deveria Funcionar

A expansão da fáscia não é novidade no meio do fisiculturismo. Outros métodos de treino, como o DoggCrap Training (DC), também pregavam o alongamento da fáscia como um método essencial de seu programa.

Embora não tenhamos elementos para enterrar esse mito por completo, já que a fáscia é um tecido com propriedades viscoelásticas e talvez realmente possa apresentar alterações em sua estrutura, a ciência explica o funcionamento desses métodos de uma forma diferente.

Especificamente no FST-7, depois de 2 ou 3 exercícios compostos para um mesmo grupo muscular, você faria 7 séries de um exercício isolado ao final do treino, alongando o músculo trabalhado por cerca de 30 segundos entre as séries.

Teoricamente, o pump gerado nessas últimas séries seria capaz de expandir sua fáscia muscular de dentro para fora, enquanto o alongamento durante o intervalo seria responsável por “esticar” sua fáscia; e isso iria aumentar seu potencial de hipertrofia.



Como o FST-7 Realmente Funciona

Apesar da explicação do método não ser baseada em evidências científicas, o FST-7 ainda possui seus méritos.

As 7 séries finais com descanso reduzido geram um grande estresse metabólico, que pode induzir à hipertrofia devido à hipóxia e ao acúmulo de metabólitos (lactato, íons de hidrogênio) no músculo. A hipertrofia sarcoplasmática e o edema das células musculares (mais conhecido como pump) também podem desempenhar um papel no aumento muscular, esse último através de maior anabolismo e de uma redução no catabolismo muscular.

Ou seja, não é porque sua fáscia se expande que o método gera hipertrofia, mas sim porque o estresse metabólico já gera hipertrofia normalmente, quer sua fáscia muscular teoricamente se expanda ou não.

Com o alongamento não é diferente. Já vimos que O Melhor Método Para Ganhar Músculos na história da pesquisa científica envolvia o alongamento com sobrecarga. Pelo menos, o melhor método para codornas.

Uma revisão de literatura recente verificou que o alongamento intenso entre as séries, especialmente quando feito com sobrecarga, pode estimular maior hipertrofia muscular. Novamente, a explicação não parece estar baseada no fato da fáscia ser alongada ou não, mas sim porque o alongamento ativa importantes gatilhos para hipertrofia, como o IGF-1 e fatores reguladores miogênicos, canais ativados pelo alongamento, a via do eixo AKT/mTOR e a síntese proteica.

Então, parece que seus músculos realmente crescem, não porque você alonga a fáscia, mas porque o alongamento intenso gera um grande grau de tensão mecânica, que é um dos mais importantes fatores conhecidos para hipertrofia.



Então o FST-7 é Bom?

Bem, o método não deixa de ter seus problemas. Dos poucos estudos que avaliaram diretamente sua aplicação, Padilha (2018) demonstrou que o FST-7 induz a um menor trabalho total (séries x repetições x carga) comparado a um treino tradicional (com descanso normal) ou um treino controle (mesmos 40s de descanso entre séries que o FST-7, porém sem o alongamento). Apesar disso, não houve diferença significativa na espessura muscular entre os grupos (FST-7 = 15,4%, CONT = 16,4% e TRAD = 18,0%).

Esses resultados não são nenhuma surpresa. Já sabemos há algum tempo que o alongamento estático pode prejudicar a performance dos exercícios de força realizados na sequência. O alongamento estático também pode atenuar a resposta hipertrófica. Esse é um ponto negativo para o alongamento entre as séries, aparentemente causado pela diminuição da força e do número total de repetições, mas que parece poder ser compensado fazendo-se mais séries.

Da mesma forma, intervalos curtos podem resultar em menor volume de treino e, consequentemente, menor hipertrofia. Ou seja, se seu intervalo é muito curto, você começa a próxima série ainda cansado e fadiga mais cedo, com menos repetições.

Contudo, o FST-7 parece compensar essa queda nas repetições aumentando drasticamente o número de séries. Ou você costuma fazer 7 séries seguidas do mesmo exercício normalmente?



O Que Isso Significa para Você

Não é que o FST-7 não funcione. Ele pode sim funcionar e trazer resultados satisfatórios para algumas pessoas.

Embora o método seja recheado de pseudociência (colocando a fáscia como um limitador da hipertrofia e sua expansão e alongamento como solução), ele utiliza métodos de treinamento cientificamente comprovados para hipertrofia, ainda que por mecanismos diferentes dos que ele prega.

Em compensação, esses métodos não são mais eficientes do que os treinos tradicionais de musculação. Na verdade, o único estudo que analisou diretamente o FST-7 teve uma tendência de resultados 17% melhores para hipertrofia com o treino tradicional.

Para algumas pessoas o volume de treino do FST-7 pode simplesmente ser demais; isso é contraproducente. Eu apenas consideraria aplicar esse método se tivesse certeza que a pessoa aguenta um volume tão alto de treino (ou que está usando esteroides).

Caso contrário, prefiro manter o número de séries em faixas ótimas (5 a 10 por sessão), se o objetivo for hipertrofia.



Fontes:
1. McCarthy KA, Mootz RD. Sports Chiropractic. Gaithersburg, Md: Aspen Publishers; 1999:16.
2. Lowe W. Orthopedic Massage: Theory and Technique. Edinburgh: Mosby; 2003.

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