Ser Forte Desde Cedo Reduz Seu Risco de Mortalidade

Intervenções na gravidez e na infância influenciam na força e no risco de mortalidade para o resto da vida.


Na maior parte de sua vida diária, dificilmente você perceberá que suas mãos são fracas.

A menos que você queira abrir um vidro de picles, caminhar grandes distâncias segurando sacolas pesadas ou pendurar-se em um trem de pouso de um helicóptero em pleno voo para evitar sua queda para uma morte cinematográfica (ou algo parecido com isso, como se segurar em uma barra fixa), normalmente você nem se dará conta da falta que a força nas mãos lhe fazem.

Doug demonstrando uma ótima força de preensão manual - Anjos da Lei 2 (Sony Pictures)

Porém, de acordo com a ciência, a força de preensão manual está associada com menores chances de morrer devido a doenças cardíacas, infarto, pneumonia e mortalidade por todas as causas.

Para piorar, a força de preensão manual parece não aumentar significativamente com o treino resistido tradicional (i.e. musculação), mas ela apresenta algumas correlações com a altura, peso corporal e IMC (índice de massa corporal) do indivíduo. Um estudo verificou que a força de preensão manual de pessoas saudáveis de meia-idade foi capaz de estimar a mortalidade delas nos 30 anos seguintes. No entanto, de acordo com os resultados encontrados, o terço (33%) mais fraco dos indivíduos tinha um risco 20 a 39% maior de morrer, independente de seu IMC.

Ou seja, ter músculos maiores pode ser importante para a força nas mãos, no entanto aumentar os músculos através da hipertrofia compensatória (como a obtida através da musculação) parece ter pouca influência na força de preensão manual.

Por isso, um estudo recente sugere que a força nas mãos não está associada somente ao tamanho do indivíduo, nem ao que ele faz durante a vida adulta para aumentar sua força de preensão manual (como musculação, ou mesmo treinar especificamente com um hand grip, por exemplo), mas sim que há um benefício em ser inerentemente mais forte desde o princípio.

E por “desde o princípio”, eles querem dizer ainda dentro do útero e durante a infância.

Rantanen e colegas, em 2000, já haviam sugerido que as influências durante a infância na força muscular podem ter implicações de longo prazo na mortalidade. E, apesar de cerca de 65% da força de preensão manual ser determinada geneticamente¹, parece que boa parte dos 35% restantes pode ser influenciada por fatores ambientais.



Um Guia Para Grávidas

Estudos epidemiológicos mostram que um menor crescimento intrauterino, caracterizado pelo menor peso ao nascer, está associado com uma menor força de preensão manual em adolescentes e adultos¹. Um estudo verificou que, aos 17 anos de idade, indivíduos nascidos com pesos extremamente baixos (800g ou menos) tinham menor capacidade aeróbia, força, flexibilidade e nível de atividade física do que aqueles que nasceram com peso normal.

Segundo um estudo, cada quilo extra de peso ao nascer está associado com um aumento de 3kg na força de preensão manual em homens e 2kg em mulheres. Outro estudo verificou que o peso ao nascer também parece estar associado a uma maior saúde óssea, independente de fatores do estilo de vida que são conhecidos por causar perda de massa óssea, como fumar, consumir pouco cálcio e não fazer exercícios. Os autores desse trabalho sugerem que:

“Fatores ambientais genéticos e/ou intrauterinos que influenciam na trajetória do crescimento fetal e são refletidos no peso ao nascer têm consequências de longo prazo na composição corporal”.

Estudos com gêmeos sugerem que cerca de 10% do peso ao nascer é geneticamente determinado (herdado), com grande parte da variabilidade do peso estando ligada ao tempo de gestação. Outros estudos com animais também sugerem que a nutrição intrauterina pode influenciar na massa muscular do feto.¹




Então, Como Dar à Luz uma Criança com Peso Saudável?

Com base no que vimos, seguem alguns possíveis pontos interessantes para se observar:


  • Tenha boa genética

Bem, como parte do peso é determinada geneticamente, eu tinha que citar isso; porém, como mãe e gestante, parece que não há muito que você possa fazer para mudar sua genética. No entanto, o estudo da epigenética já nos mostrou que podemos inibir ou aumentar certas expressões de nossos genes, de modo que isso pode, inclusive, ser transmitido para nossos filhos, ainda que essas mudanças epigenéticas tenham ocorrido bem antes da gravidez.

Então, aparentemente, quanto mais saudável você for durante sua vida, maiores as chances de passar esses “genes saudáveis” para o feto; e isso também vale para os genes do pai.


  • Evite o parto prematuro

Isso é algo quase óbvio, já que grande parte do peso ao nascer é determinada pela idade gestacional (tempo de gravidez).

Riscos conhecidos de parto prematuro incluem: problemas crônicos na saúde da mãe, como pressão alta, diabetes e distúrbios na coagulação sanguínea, infecções durante a gravidez, tabagismo, uso de álcool ou drogas durante a gestação, problemas no útero ou no colo, raça/etnia, gravidez de gêmeos (ou mais), entre outros.

Então, aparentemente, quanto mais saudável você for, menores os riscos de ter um parto prematuro.


  • Ganhe o peso adequado durante a gestação

Há algumas evidências sugerindo que a nutrição materna é determinante para o peso ao nascer. E, considerando que isso é um fator relevante associado à força de preensão manual, estratégias para aumentar o peso do feto e promover uma nutrição intrauterina otimizada parecem ser importantes.

Evitando entrar na qualidade da dieta, para o que seria prudente o acompanhamento com um/uma nutricionista especialista ou com experiência em gestantes, há alguns cálculos simples que você pode fazer para descobrir quanto peso você deveria ganhar durante a gravidez.

Primeiro, você precisa calcular seu IMC (índice de massa corporal); para isso, use seu peso de antes da gravidez.


Depois, siga esta tabela:

Fonte: IOM (2009) - Weight Gain During Pregnancy: Reexamining the Guidelines

Importante ressaltar que, tanto o baixo ganho de peso quanto o ganho de peso em excesso podem ser problemáticos. Estudos associaram o ganho de peso gestacional excessivo e a obesidade maternal a desordens mentais e cognitivas na criança, obesidade infantil e um maior risco de doenças cardíacas, diabetes, infarto, asma e morte prematura.

Isso sem falar nos problemas trazidos para a própria gestante, que incluem maior risco de aborto espontâneo, pré-eclampsia, diabetes gestacional e tromboembolismo.

Então, novamente, quanto mais saudável você for antes da gestação e se mantiver durante ela, ganhando peso na proporção adequada, maiores as chances de parir uma criança forte e saudável.



É Muito Tarde Se A Criança Já Nasceu?

Após o parto, aparentemente, ainda há algum tempo para recuperar possíveis “desvantagens” ocorridas na gestação. Não sabemos exatamente em qual proporção, mas aí as estratégias parecem focar no estilo de vida e alimentação da criança, principalmente durante a primeira infância.

Um estudo com 968 crianças de 4 anos de idade identificou que um maior peso ao nascer foi positivamente associado à uma maior força de preensão manual, levando em conta o sexo da criança e o tempo de gestação. Contudo, quando eles consideravam a altura e peso das crianças, essa relação não mais existia, o que sugere que o tamanho corporal da criança pode ser o fator causal. Segundo os pesquisadores, “influências precoces no desenvolvimento muscular parecem afetar a força de preensão manual em crianças, assim como em adultos”.

Isso significa que o desenvolvimento da criança na primeira infância pode ser um período oportuno para a aquisição de um nível de base de força e massa muscular. A desnutrição pode causar problemas no crescimento, logo, nutrição apropriada durante o desenvolvimento infantil é fundamental para o crescimento saudável.¹

Outra fase importante no desenvolvimento corporal da criança é a fase de rebote de adiposidade, a qual, junto com o período pré-natal e com a puberdade, é uma fase crítica no desenvolvimento da maior parte da gordura corporal.

Essa fase ocorre entre os 3 e 7 anos de idade e é caracterizada por um período mais longo, onde a criança vai reduzindo gradualmente seu IMC (emagrece), para então começar a ganhar peso (engordar) para se preparar para o estirão do crescimento -  por isso recebe o nome de “rebote”. A maioria dos estudos nessa área se debruça sobre a influência dessa fase na obesidade e não no desenvolvimento muscular.

Idealmente, a fase do ganho de peso deve ocorrer por volta dos 6 a 7 anos de idade, porém estudos verificaram que o rebote de adiposidade precoce (i.e. quando ocorrido dos 3 aos 5 anos) está associado à obesidade na adolescência e/ou vida adulta, bem como à síndrome metabólica. Então, parece que atingir essa fase na idade apropriada é crítico para a composição corporal ao longo da vida.

Mas a ciência ainda não conseguiu explicar exatamente como podemos fazer para diminuir ao máximo a tendência à obesidade e aumentar a tendência à muscularidade nesse período. Contudo, parece que ser uma criança fisicamente ativa e alimentar-se adequadamente, evitando excessos, e passando pela fase de rebote de adiposidade após a primeira infância (por volta dos 6 a 7 anos), pode ser importante, refletindo na composição corporal para o resto da vida.

Como sempre, mais pesquisas são necessárias.



O Que Isso Significa Para Você

Todos os caminhos parecem levar à mesma direção. Se você quer colocar uma prole saudável no mundo, você deveria manter um peso saudável, praticar exercícios físicos e evitar o sobrepeso e a obesidade ao longo da vida, e especialmente durante a gravidez. Isso também vale para o pai (devido à epigenética), mas durante a gestação depende unicamente da mãe, por motivos óbvios, já que a criança está dentro de seu útero.

Após o parto, os hábitos saudáveis deveriam começar logo na infância, com estímulos para que a criança tenha uma dieta saudável e seja fisicamente ativa. Claro que crianças não precisam de uma sala de musculação para desenvolver força; uma variedade de brincadeiras, jogos ou mesmo esportes que a criança goste parecem ser suficientes para isso.

O desenvolvimento de um nível de base de força muscular no início da vida, isto é, durante a gravidez e na infância precoce, parece impactar positivamente na força para o resto da vida, diminuindo o risco de mortalidade por todas as causas.

E tudo isso parece ser refletido na força de preensão manual, como verificado pela ciência em diversas oportunidades.



Fonte:
1. Buckner SL, Dankel SJ, Bell ZW, Abe T, Loenneke JP. “The Association of Handgrip Strength and Mortality: What Does It Tell Us and What Can We Do With It?”. Rejuvenation Res. 2019 Jun;22(3):230-234.

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