Uma droga bastante conhecida dos fisiculturistas agora é uma das opções na prevenção do câncer de mama.
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Foto: Posza Róbert em Pexels |
Desde
o dia 3 de Setembro de 2019, a droga anastrozol passou a fazer parte das
diretrizes oficiais atualizadas recomendadas pela Sociedade Americana de
Oncologia Clínica (ASCO) para redução do risco de câncer de mama.
A
ASCO é uma organização norte-americana de oncologistas e outros profissionais
de saúde. Suas diretrizes sugerem recomendações de tratamentos e testes aos
médicos, baseadas nas melhores pesquisas e nos experimentos com maior
credibilidade.
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O anastrozol
é uma droga que foi descoberta no final da década de 80 e aprovada para uso médico
durante os anos 90. Ela atua inibindo seletivamente uma enzima chamada
aromatase, que é responsável por converter hormônios andrógenos (como testosterona)
em estrogênio.
A
descoberta do anastrozol foi um prato cheio para os fisiculturistas, pois a
aplicação de altas doses de testosterona trazia consigo uma grande
probabilidade de aromatização (testosterona sendo convertida para estrogênio),
resultando em diversos efeitos colaterais indesejados, como ginecomastia
(tetinhas), retenção hídrica, ganho de gordura, etc.
Mas
esse, obviamente, não era o uso pretendido da droga. O anastrozol foi um
medicamento criado para uso como adjuvante (auxiliar) no tratamento contra o
câncer de mama.
A
administração de anastrozol reduz em até 85% os níveis de estradiol (uma forma
de estrogênio) em mulheres na pós-menopausa e essa redução no estradiol circulante
produz um efeito benéfico em mulheres com câncer de mama receptor hormonal
positivo.
Infelizmente,
seu uso pode trazer efeitos colaterais severos, e aí o exercício físico e a suplementação
podem ter um papel importante.
Medicamentos Reduzem o Risco de Câncer de Mama
Se
você sabe que tem um alto risco de ter câncer de mama por causa de um
histórico familiar da doença ou uma mutação em genes ligados ao câncer de mama,
como BRCA1 e BRCA2, há uma série de medidas que você pode tomar para manter
esse risco o mais baixo possível.
Além
de mudanças no estilo de vida, como exercitar-se regularmente e manter um peso
corporal saudável, os médicos podem recomendar a hormonioterapia a fim de
reduzir o risco em mulheres com alto risco de ter câncer de mama futuramente.
A
hormonioterapia é feita através de medicamentos que reduzem o risco de
desenvolvimento do câncer de mama hormônio receptor positivo, o tipo mais comum
de câncer de mama, e não funciona nos casos de câncer hormônio receptor
negativo.
Esses
medicamentos são:
- Tamoxifeno: um Modulador Seletivo do Receptor de Estrogênio (SERM);
- Raloxifeno: outro SERM;
- Exemestano: um inibidor de aromatase;
E as
diretrizes atualizadas da ASCO agora dizem que os médicos podem oferecer como medicamento
para redução do risco de câncer o:
- Anastrozol: também um inibidor de aromatase (IA).
Embora
o anastrozol possa ser aplicado como tratamento auxiliar após o desenvolvimento
do câncer, as diretrizes da ASCO, agora, sugerem oficialmente seu uso na prevenção do câncer de mama.
Como Esses Medicamentos Funcionam
Os SERMs
(tamoxifeno e raloxifeno) bloqueiam a ação do estrogênio nas mamas e em outras
células ligando-se aos receptores de estrogênio presentes nelas. Pense neles
como sendo uma chave que entra na fechadura, mas não abre a porta iniciando as
reações (desenvolvimento do câncer). Como já há uma chave errada (SERM) no
buraco da fechadura (receptor), ela impede que a chave certa (estrogênio) entre
na fechadura e abra a porta.
Como
os SERMs são seletivos, eles não afetam da mesma maneira todos os receptores de
estrogênio. Nas células ósseas, por exemplo, os SERMs interagem com o receptor
da mesma maneira que o estrogênio, fortalecendo os ossos. Já nas mamas, eles
bloqueiam a ação do estrogênio e impedem o crescimento das células.
Os
inibidores de aromatase, por sua vez, funcionam fazendo o corpo parar de
produzir estrogênio pela aromatização (principalmente da androstenediona em mulheres
na pós-menopausa), limitando a quantidade de estrogênio disponível para estimular
o crescimento das células cancerígenas hormônio receptor positivas.
Recomendações da ASCO
*Obs.:
Não tome medicamentos sem prescrição médica.
Tamoxifeno
Outra
droga velha conhecida dos fisiculturistas, o tamoxifeno é um SERM que foi
desenvolvido inicialmente para tratar a infertilidade feminina.
Pode
ser usado na prevenção do câncer de mama em mulheres na pré-menopausa. É tomado
via oral na dose de 20mg ao dia durante 5 anos.
Seus
riscos incluem trombose venosa, embolia pulmonar, infarto, derrames, ataque
isquêmico transitório (mini-AVC), e seu uso não é recomendado em gestantes e
lactantes.
Fisiculturistas
o usam para evitar a ginecomastia e para retomar a produção de testosterona endógena
após o fim de um ciclo de esteroides anabolizantes.
Raloxifeno
É um
SERM desenvolvido para prevenção tratamento da osteoporose em mulheres após a
menopausa, tendo a prevenção de risco de câncer de mama como efeito secundário.
Pode
ser usado na prevenção do câncer de mama em mulheres na pós-menopausa e costuma
ser tomado via oral, na dose de 60mg por dia durante 5 anos.
Os
efeitos adversos são os mesmos do tamoxífeno: trombose venosa, embolia
pulmonar, infarto, derrames e ataque isquêmico transitório.
-
Em ambos
os casos, os riscos/benefícios devem ser discutidos entre médico e paciente,
bem como as melhores formas de evitar os efeitos colaterais dos medicamentos.
Exemestano
É um
medicamento inibidor da aromatase (IA) indicado para tratamento auxiliar do
câncer de mama hormônio receptor positivo.
Pode
ser usado como uma alternativa ao tamoxifeno/raloxifeno para reduzir o risco de
câncer de mama em mulheres pós menopausadas e é tomado via oral, na dose de
25mg/dia durante 5 anos.
Os efeitos
colaterais serão comentados a seguir.
Anastrozol
É outra
droga inibidora da aromatase (IA), usada como tratamento adjuvante contra o
câncer de mama.
Recém
incluído na lista de recomendações da ASCO, o anastrozol surge como uma
alternativa às outras três drogas para a redução do risco de câncer de mama
invasivo em mulheres após a menopausa.
Ele
é tomado via oral, na dose de 1mg/dia durante 5 anos e não deve ser utilizado
por mulheres antes da menopausa.
IAs,
quando utilizados em homens inférteis, podem melhorar tanto o perfil hormonal
(razão testosterona/estradiol) quanto os parâmetros seminais (volume de
ejaculação e contagem de espermatozoides móveis).
Riscos e Efeitos Colaterais dos IAs
Os
principais e mais comuns efeitos colaterais observados em mulheres após o uso
de IAs (exemestano e anastrozol) são calorões e suor (tipicamente causados pela
deficiência de estrogênio), rubor (pele avermelhada), insônia, dor de cabeça,
alterações em enzimas hepáticas, artrite e dores nas articulações. Náusea e
fadiga também são comuns em pacientes com câncer em estágio mais avançado.
Efeitos
colaterais mais severos incluem o aumento do risco de doenças cardíacas,
osteoporose e, consequentemente, risco de fraturas ósseas.
Antes
de iniciar um tratamento com IAs, os médicos deveriam avaliar as pacientes para
riscos de fratura e medir a densidade mineral óssea.
Um
histórico de osteoporose e/ou perda severa de massa óssea é uma importante
contraindicação para o uso de anastrozol.
Como Evitar Esses Riscos
Segundo
a ASCO, os médicos deveriam usar o anastrozol (e outros IAs) com cautela em mulheres
pós menopausadas com perda moderada de densidade mineral óssea e, se usados,
deveriam considerar o uso de agentes protetores ósseos como bisfosfonatos e
inibidores de RANKL (Receptor Ativador de Fator Nuclear kappa-B).
Todas
as pacientes recebendo inibidores de aromatase deveriam ser encorajadas a
exercitar-se regularmente e suplementar adequadamente vitamina D e cálcio.
Suplementos
Tanto
o cálcio quanto a vitamina D parecem ser suplementos importantes para a saúde dos
ossos.
O
cálcio é o principal mineral ósseo e a vitamina D é importante para a absorção
eficiente de cálcio pelos ossos e para um funcionamento efetivo das células
ósseas.
Uma
metanálise¹ publicada em 2016 verificou os efeitos da suplementação combinada
de cálcio e vitamina D, inclusive em indivíduos idosos. Os achados desse estudo
apontam que a suplementação conjunta de cálcio + vitamina D poderia reduzir o
risco total de fraturas em 15% e o risco de fratura do quadril em 30%.
As
doses mais utilizadas nos estudos analisados foram de 1000-1200mg de cálcio e 800 UI
de vitamina D ao dia.
Outro estudo² verificou que a suplementação semanal de 50.000 UI de vitamina D3 associada
ao tratamento para câncer de mama com Letrozol (outro IA) diminuiu os sintomas
de dores articulares em participantes inicialmente deficientes em vitamina D.
Ao final de 16 semanas, 52% das mulheres que atingiram níveis adequados de
vitamina D (66 ng/dl ou mais) no sangue disseram não sofrer com dores articulares
incapacitantes, enquanto apenas 19% das mulheres que não conseguiram atingir
tais níveis relataram o mesmo.
Estudos
observacionais ainda sugerem uma associação positiva entre a suplementação de 2.000
UI de vitamina D ao dia e redução no risco de desenvolvimento de câncer de
mama. Saímos ganhando de ambos os lados.
Tratam-se
de suplementos simples, fáceis de conseguir e relativamente baratos.
A vitamina D é sintetizada, principalmente, pela incidência de raios ultravioletas sobre a pele. Um banho de sol de cerca de 15 a 30 minutos (dependendo da cor
da pele - quanto mais escura mais tempo) nos horários de sol mais forte do dia,
sem filtro solar, podem ser suficientes para sintetizar até 10.000 unidades
internacionais (UI) de vitamina D, dependendo da quantidade de pele exposta ao sol.
Agora, se você quiser evitar câncer de pele, rugas ou envelhecimento precoce da pele associado aos
efeitos do sol, você pode optar pela suplementação oral de Vitamina D3.
Segundo o estudo, a dose mais utilizada foi de 800 UI.
Contudo, há evidências suficientes para considerarmos segura a suplementação de
até 2.000 UI de vitamina D3 diariamente.
Os dois primeiros produtos abaixo possuem 2.000 UI de Vitamina D3 por cápsula. Já o último trata-se de uma opção líquida. Cada gota contém 200 UI, então 4 gotas corresponderiam a 800 UI (dose mínima) e 10 gotas a 2.000 UI.
Os dois primeiros produtos abaixo possuem 2.000 UI de Vitamina D3 por cápsula. Já o último trata-se de uma opção líquida. Cada gota contém 200 UI, então 4 gotas corresponderiam a 800 UI (dose mínima) e 10 gotas a 2.000 UI.
Já o cálcio é um mineral frequentemente obtido através da alimentação, presente principalmente em produtos lácteos e alguns vegetais. Se sua dieta é suficiente em cálcio, a suplementação é desnecessária.
Caso seja verificada a necessidade de suplementação, existem diversos suplementos e medicamentos contendo cálcio no mercado. Tenha em mente que outros suplementos que você pode estar consumindo, como whey protein e caseína, já possuem uma quantidade considerável de cálcio.
Diversos suplementos e medicamentos ainda contém conjuntamente cálcio e vitamina D3 (normalmente em pequenas quantidades) e, às vezes, outros minerais, como Zinco e Magnésio, e vitaminas, como a K. Seu uso pode ser considerado, embora eles normalmente tenham uma dose muito baixa de vitamina D.
Caso seja verificada a necessidade de suplementação, existem diversos suplementos e medicamentos contendo cálcio no mercado. Tenha em mente que outros suplementos que você pode estar consumindo, como whey protein e caseína, já possuem uma quantidade considerável de cálcio.
Diversos suplementos e medicamentos ainda contém conjuntamente cálcio e vitamina D3 (normalmente em pequenas quantidades) e, às vezes, outros minerais, como Zinco e Magnésio, e vitaminas, como a K. Seu uso pode ser considerado, embora eles normalmente tenham uma dose muito baixa de vitamina D.
Papel do Exercício Físico
Um
estudo³ publicado em 2017 examinou os efeitos de 12 meses de exercícios
aeróbios e resistidos (musculação) em mulheres pós menopausadas sobreviventes
de câncer de mama fazendo o uso de IAs.
O grupo
praticante de exercícios fazia duas sessões de musculação supervisionadas durante
a semana e era instruído a praticar mais 150 minutos de exercícios aeróbicos em
intensidade moderada (60-80% FCmax) semanalmente. O grupo controle foi
instruído a manter suas atividades usuais durante o período.
O
treino de musculação consistia de 3 séries de 8 a 12 repetições de 6 exercícios
para o corpo todo (ex. leg press, extensão de joelhos, flexão de joelhos,
supino reto e remada baixa) repetidos duas vezes na semana. A carga era
aumentada sempre que fosse possível completar 3x12 com o mesmo peso em duas
sessões consecutivas.
Ao
final de um ano os pesquisadores observaram que as mulheres que praticaram
exercícios tiveram uma redução do IMC (índice de massa corporal, -0,73 kg/m²) e
do percentual de gordura (-1,4%), além de um aumento de massa magra (+0,32 kg).
Embora
não tenha sido verificada diferença na densidade mineral óssea (DMO) entre os grupos,
os cientistas encontraram uma tendência de aumento da DMO nas participantes que
faziam o uso de bisfosfonatos em conjunto com exercícios, o que sugere que essa
associação possa ser positiva.
Além disso, a prática de exercícios físicos reduz o risco de câncer de mama e outros 6 tipos de câncer.
Além disso, a prática de exercícios físicos reduz o risco de câncer de mama e outros 6 tipos de câncer.
As
diretrizes de exercício para pessoas com câncer foram recém revisadas e sugerem
que sessões mais curtas (e possivelmente mais intensas) de 30 minutos, 3 vezes por semana, podem ser tão eficientes quanto os 150 minutos recomendados
anteriormente. Eu diria que seriam provavelmente melhores.
O Que Isso Significa Para Você
Se
você tem um risco mais alto que o normal de ter câncer de mama, é bom que você faça
o possível para manter esse risco o mais controlado possível. Você pode fazer
mudanças simples no estilo de vida, como:
- Manter um peso corporal saudável e controlado;
- Ter uma dieta rica em comida de verdade, alimentos frescos e nutricionalmente densos e baixa em alimentos processados e com alto teor de açúcar;
- Exercitar-se regularmente na maior intensidade possível;
- Evitar ou limitar o consumo de álcool;
- Não fumar.
Você
e seu médico também podem considerar o uso de hormonioterapia para reduzir seu
risco. Converse com seu/sua médico(a) sobre suas preferências, assim como sobre
os riscos e benefícios dos diferentes medicamentos aplicáveis ao seu caso.
Se
você já faz hormonioterapia e está tendo efeitos colaterais intoleráveis,
fale com seu médico. Pode ser que seja possível trocar o medicamento
utilizado por um com menos efeitos colaterais. Ainda há outros medicamentos ou
terapias complementares (como acupuntura) que podem ajudar a reduzir os efeitos
colaterais.
Se
você usa inibidores de aromatase e possui risco de perda de massa óssea
converse sobre a associação de bisfosfonatos, suplementação de vitamina D e
cálcio e a prática de exercícios físicos para mitigar esses riscos.
Juntos (e shallow now),
vocês podem fazer a melhor escolha para seu caso específico.
Fontes:
1. Weaver
CM et al. “Calcium plus vitamin D supplementation and risk of fractures: an
updated meta-analysis from the National Osteoporosis Foundation”. Osteoporos
Int. 2016 Jan;27(1):367-76.
2. Khan
QJ et al. “Effect of vitamin D supplementation on serum 25-hydroxy vitamin D
levels, joint pain, and fatigue in women starting adjuvant letrozole treatment
for breast cancer”. Breast Cancer Res Treat. 2010 Jan;119(1):111-8.
3. Thomas
GA et al. “The effect of exercise on body composition and bone mineral density
in breast cancer survivors taking aromatase inhibitors”. Obesity (Silver
Spring). 2017 Feb;25(2):346-351.
4. DePolo
J. “Updated ASCO Guidelines Add Arimidex to Recommended Risk-Reducing Medicines
for Women at High Risk of Breast Cancer”. https://www.breastcancer.org/research-news/arimidex-recommended-as-high-risk-option
5. Fabian
CJ, Visvanathan K, Somerfield MR. “Use of Endocrine Therapy for Breast Cancer
Risk Reduction: ASCO Clinical Practice Guideline Update Summary”. J Oncol Pract.
2019 Sep 3:JOP1900379.
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